quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Caridade na Umbanda


Existe uma distância, enorme, entre a palavra “CARIDADE” e a ação, real, de caridade. A palavra “CARIDADE” é muito usada como desculpa para aliviar o peso na consciência, ou se fazer de coitado, vítima da vida. Outros usam a “CARIDADE” para justificar sua pretensa bondade, sua salvação, e até como vaidade, ela é muito usada. Será que se faz tanta caridade quanto se fala de caridade? Aqueles que dizem fazer caridade têm ideia do sentido mais profundo da palavra?


Na Umbanda, todos dizem fazer a caridade e, quando pedimos para explicar que caridade é esta, ouvimos os conceitos mais variados. Muitos dizem fazer a caridade para seus próprios Guias, para que estes evoluam, o que é uma inversão completa de papel: acreditar que o médium deve trabalhar incorporado, ceder seu corpo, para que seus mentores espirituais possam evoluir! Neste contexto, encontramos médiuns que acreditam estar fazendo “o favor” de frequentar uma Tenda de Umbanda e incorporar espíritos. Trabalham de má vontade, trabalham por obrigação, porque fazendo esta caridade estão comprando um “terreninho” na Aruanda. Fazem esta caridade de incorporar espíritos para saldar suas dívidas, para “limpar” ou “queimar” seu carma. São tão caridosos que, com muito custo e dificuldade, abandonam suas atividades fúteis para vestir o papel de bons samaritanos, juntando fileiras de preguiçosos que acreditam já fazer demais só por ir uma vez na semana ao Terreiro, incorporar e atender com seus Guias. Justificam sua falta de doutrina, sua falta de estudos, sua letargia cultural, alegando que não precisam saber de nada, pois seus Guias sabem de tudo.
A única coisa que precisam fazer é esta caridade. Que caridade é esta?
Outros, em nome da caridade, se deixam explorar apenas para se fazerem de coitados, de vítimas da vida; são como crianças que desejam estar doentes para ter a atenção dos pais. Afirmam que seus Guias ajudam a todos, menos a eles mesmos. Vivem falando da ingratidão alheia e que esta é a moeda pela qual se paga sua preciosa caridade. Se orgulham de não ter nada e, se vivem mal, às vezes na sujeira, chamam isso de humildade.
Sua caridade é a única coisa que sobrou para chamarem a atenção alheia. Querem ser tratados como coitados que tudo fazem para ajudar sem aceitar nenhum tostão, frase que vivem repetindo como papagaios: dar de graça, o que recebemos de graça. E logo emendam que o preço da caridade é ingratidão, já que sua caridade não é um fim em si, mas sim um meio para alcançar algo. Neste caso, esperam que o outro se sinta em dívida para consigo, estes mesmos a quem ele diz ter feito “caridade”. E se não recebem o reconhecimento, logo passam a praguejar as mesmas pessoas que afirmam ter ajudado tanto. 
Existem os tais caridosos, sacerdotes e dirigentes, que pagam todas as contas e despesas do Terreiro sozinhos. Não ensinam a seus médiuns o valor sagrado da colaboração e manutenção de um templo. Postura cômoda destes dirigentes, que usam esta condição para tratar mal as pessoas, humilhar e expor ao ridículo seus médiuns, quando estes não lhes agradam. Dizem aceitar a todos os médiuns, dizem que o Pai ou a Mãe não pode escolher os filhos, devem aceitar a todos que chegam, porque esta é sua caridade, mas, às escondidas e até abertamente, falam mal dos mesmos filhos, ironizam e desdenham, dizendo que médium é assim mesmo, só serve para dar desgosto.
Mas o que é esta caridade?
Muitos dizem que é “dar de graça, o que recebeu de graça”, mas ao mesmo tempo usam esta mesma frase para atacar tudo que acreditam não estar de acordo com a sua caridade.  A caridade é uma virtude e “a virtude nunca espera recompensa”. A virtude não é um meio para se alcançar algo; virtude é um fim em si mesma, virtude é uma qualidade. Quem tem a virtude de fazer o Bem, faz por prazer puro e simples. Qualquer interesse anula automaticamente o benefício da caridade. 
A caridade é o resultado de uma ação fundamentada no amor e na verdade, com total desapego de resultado ou julgamento.
No entanto, nossas ações não são moeda de troca para se alcançar um estado elevado de consciência, o céu ou a luz.  Ajudar ao próximo é bom, mas nem sempre quem ajuda tem paz para si mesmo. Ajudar ao próximo é muito importante, mas ajudar a si mesmo é fundamental. A maior caridade é o despertar para a verdade maior; a maior caridade é tomar consciência de quem somos; a maior caridade é a autorrealização.
Ninguém pode dar o que não tem. A caridade real só existe quando praticada com desapego, virtude, amor, verdade e isenção de julgamento. 

Sem amor e verdade, não existe caridade. Não adianta nem fazer caras e bocas de santo, não adianta vestir a pele de cordeiro, não adianta chorar e fazer voz de criança, muito menos assumir o papel do moralista. A verdade é muito maior do que todas as nossas desculpas, medos, fraquezas e expectativas.

Trechos do texto de Alexandre Cumino, Caridade na Umbanda - fonte: www.umbandaeucurto.com



sábado, 14 de setembro de 2013

Homenagem ao Sr. Zé Pilintra das Almas


Sou guia, sou corrente, egrégora e proteção.
Sou chapéu, sou terno, gravata e anel.
Sou sertão, sertanejo, carioca, paulista, alagoano e brasileiro.
Sou Mestre, Malandro, Catimbozeiro, Exu e Povo de Rua.
Sou faca, facão e navalha.
Sou armada, cabeçada e rasteira.
Sou Lua crescente, sou noite clara, sou céu aberto.
Sou o suspiro dos oprimidos, sou a fé dos abandonados.
Sou o pano que cobre o mendigo, sou o mulato que sobe o morro e o Doutor que desce a favela.
Sou Umbanda, Catimbó e Candomblé.
Sou porta aberta e jogo fechado.
Sou Angola e sou Regional.
Sou cachimbo, sou piteira, cigarro de palha e fumo de corda.
Sou charuto, sou tabaco, sou fumo de ponta, sou brasa nos corações dos esquecidos.
Sou jogo de rua, sou baralho, sou dado e dominó.
Sou truco, sou buraco e carteado.
Sou proteção ao desamparado, sou o corte da demanda e a cura da doença.
Sou a porta do terreiro, sou gira aberta e gira cantada.
Sou ladainha, sou hino, sou ponto, sou samba e sou bamba.
Sou reza forte, sou benzimento, sou passe e transporte.
Sou gingado, sou bailado, sou lenço, sou cravo vermelho e sou rosas brancas.
Sou roda, sou jogo, sou fogo.
Sou descarrego, sou pólvora, sou cachaça e sou Jurema.
Sou lágrima, sou sorriso, sou alegria e esperança.
Sou amigo, parceiro e companheiro.
Sou Magia, sou Feitiço e sou demanda.
Sou irmão, sou filho, sou pai, amante e marido.
Sou sobrevivência, sou flexibilidade, sou jeito, oportunidade e sabedoria.
Sou escola, sou estudo, sou pesquisa e poesia.
Sou o desconhecido, sou o homem de história duvidosa, mas sou a história de muitos homens.
Sou a vida a ser vivida, sou palma a ser batida, sou o verdadeiro jogo da vida EU... SOU ZÉ PILINTRA!


Fonte: Blog Espiritualizando com a Umbanda (feitas algumas adaptações)